Mark Bullen, da British Columbia Institute of Technology, no Canadá, é um crítico da abordagem dos problemas geracionais da educação com base na dicotomia
nativos digitais / imigrantes digitais. Esta dicotomia, proposta inicialmente por
Mark Prensky (Prensky, 2001), sugere a existência de uma geração de nativos digitais, ou seja, uma geração cuja língua nativa é a linguagem digital. Por oposição, as gerações anteriores são constituídas por imigrantes digitais. Estas gerações utilizam as tecnologias digitais, aprenderam uma nova língua, mas esta não é a sua língua nativa (ver este
post no blogue do
escolinhas). Por estes motivos, a forma de educar os nativos digitais deve ser, na opinião de Prensky, radicalmente diferente da dos seus antecessores. Mark Prensky defende ainda a importância dos jogos eletrónicos e o seu efeito na sociedade (ver este
post no
escolinhas). Assim existirá também uma geração de
Gamers, mais alargada e que inclui a geração dos nativos digitais.
Bullen (2011), por outro lado, defende que o problema não é geracional mas sim de postura de cada indivíduo face às tecnologias (ver também este
post, publicado aqui há cerca de um ano atrás). As implicações das tecnologias digitais na educação deve ser analisada de forma mais criteriosa e suportada por evidências empíricas. Mark Bullen reconhece que os uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) tem vindo a aumentar e que a sua popularidade é grande entre as gerações mais novas. No entanto, as gerações mais velhas tendem a usar as TIC em cada vez maior escala.
Mark Bullen procura fundamentar as suas posições em evidências empíricas tendo conduzido um estudo envolvendo estudantes do ensino superior em seis países. Bullen propõe uma abordagem baseada no conceito de
aprendizes digitais (
digital learners) que se baseia na postura de cada indivíduo com base nas suas competências digitais, meios de acesso às TIC e conforto na sua utilização. O uso das TIC é assim uma questão social e não uma questão geracional e o seu impacto na educação necessita de um estudo mais aprofundado. Os estudantes alvo do estudo distinguem também as tecnologias que usam para aprender e as que usam para fins lúdicos e de interação social.
Uma posição semelhante é a
David White que coloca o questão do uso da TIC na perspetiva dos
residentes digitais e nos
visitantes digitais (ver este
post). Nesta outra abordagem, o problema é visto como a forma como cada indivíduo se relaciona com as TIC, independentemente da geração ou das competências digitais adquiridas. O grau de envolvimento que cada indivíduo decide ter perante as TIC é que é determinante. Isto significa que um utilizador etariamente pertencente à geração dos nativos digitais e com um nível de competências digitais elevado, pode optar por manter uma relação mais distante com as TIC, vendo-as como ferramentas que usa quando necessário mas evitando manter uma presença constante on-line. Este utilizador é um visitante digital por oposição aos residentes digitais que mantêm uma presença on-line constante, nomeadamente nas redes sociais e em outras aplicações características da Web 2.0.
Seja qual for a abordagem preferida, a realidade é que existe uma presença cada vez maior das TIC nas sociedades atuais. Que isso afeta a forma como as pessoas se relacionam, trabalham e aprendem é um facto. Também é um facto que o grau de envolvimento com as tecnologias não é uniforme. Esse envolvimento tem razões de origem geracional, social e de postura individual. Ou seja, as três perspetivas apresentadas acima estarão todas certas. É verdade que os indivíduos nascidos a partir de década de 1980 estiveram desde cedo expostos a estas novas tecnologias sendo por isso natural um maior envolvimento. Isso não significa que os que nasceram antes não consigam atingir níveis de envolvimento semelhantes. Os aspetos sociais e culturais têm obviamente influência fazendo com que indivíduos que partilhem determinados contextos sociais, independentemente da idade, apresentem posturas semelhantes perante as TIC. Finalmente, cada indivíduo é único e independentemente do contexto, cada um pode ter sua própria postura em função de interesses e personalidade próprios.
Finalmente, no que diz respeito ao ensino, a conclusão é que as TIC devem fazer parte do processo uma vez que as gerações mais novas convivem facilmente com elas. As diferenças sociais que possam existir são diluídas pelo papel que a escola tem em ministrar um ensino uniforme que possibilite igualdade de oportunidades para todos. Independentemente do relacionamento posterior de cada um, o importante é possuir as competências digitais necessárias para singrar, quer social quer profissionalmente, num mundo que tem de acompanhar uma rápida evolução tecnológica.
Referências