Sunday, February 19, 2012

Drive - O que Nos Motiva

A relação entre a aplicação de gamification e a sua relação com a motivação já foi abordada aqui em vários posts (ver, por exemplo, Life is a Game or Gamification of Life?). Um dos objetivos da gamification é precisamente o aumento da motivação e do envolvimento dos utilizadores de um serviço ou de uma aplicação. No que toca à motivação, é habitual fazer-se a distinção entre a motivação intrínseca e a motivação extrínseca. Uma boa referência para perceber o que as distingue é o livro Drive de Daniel Pink (também já antes comentado aqui).


No final do livro é apresentado um resumo, capítulo a capítulo, e um resumo para o Twitter (condensar o que é abordado com um máximo de 140 caracteres):

"As cenouras e os chicotes são coisas do passado. Drive diz que precisamos é de autonomia, mestria e sentido."

As "cenouras" e os "chicotes" correspondem à motivação extrínseca: recompensas e castigos em função de comportamentos que se pretendem promover ou comportamentos que se pretendem inibir.



A autonomia, a mestria e o sentido são, por outro lado, os pilares da motivação intrínseca. A autonomia consiste no desejo de controlarmos as nossas vidas, a mestria é o desejo de melhorarmos cada vez mais a execução de algo que consideramos importante e o sentido é o desejo de que aquilo que fazemos tenha um sentido superior aos nossos interesses pessoais.

Daniel Pink faz uma analogia entre os sistemas operativos dos computadores e o funcionamento das sociedades. Assim, as sociedades começaram por se organizar em função de uma primeira versão desse sistema operativo social, a Motivação 1.0. Esta versão consistia num funcionamento que tinha como objetivo a sobrevivência. Com a evolução das sociedades passou-se para a Motivação 2.0, baseada em motivadores extrínsecos e punições. A tese de Pink é que as sociedades atuais precisam da Motivação 3.0, assente já em mecanismos de motivação intrínseca.

Os comportamentos das pessoas são ainda divididos em comportamentos do tipo X (baseados na motivação extrínseca) e em comportamentos do tipo I (baseados na motivação intrínseca). O livro fornece um link para um teste para determinar qual o nosso comportamento mais determinante.

A última parte do livro apresenta um guia para promover os comportamentos do tipo I em diversas áreas. Uma delas é a área da educação, sugerindo algumas estratégias para pais e professores. No que diz respeito, por exemplo, aos trabalhos de casa, Daniel Pink sugere que, antes de de serem propostos aos alunos, se faça uma avaliação dos objetivos dos trabalhos tendo em conta os três pilares da motivação intrínseca (autonomia, mestria e sentido). Outro assunto abordado é a atribuição de mesadas e a atribuição de tarefas domésticas por parte dos pais. Pink defendo que devem ser atribuídas mas não relacionadas uma com a outra. A mesada permite que os filhos aprendam a fazer a gestão das suas finanças sociais e as tarefas domésticas fomentam a cooperação entre todos os elementos da família. Associar ambos faz com que a execução das tarefas domésticas fique dependente de uma recompensa. Na ausência desta deixa de fazer sentido executar a tarefa o que é um comportamento que certamente não se pretende promover.

A startup HighScore House (ver Life is a Game or Gamification of Life?) corre esse risco com o serviço que promove, apesar de procurar criar um ambiente mais motivador e promover o lado lúdico que pode existir na realização das tarefas domésticas. Fica no entanto a dúvida:o que acontecerá nas famílias que, depois de usarem este serviço, por alguma razão o abandonem ou mesmo se o próprio serviço deixar de existir? Como manter a motivação desaparecendo a recompensa?

Voltando ao livro e no que diz respeito à educação, são dadas também sugestões sobre a forma dos pais e educadores elogiarem o desempenho das crianças e jovens e de fornecer feedback. São ainda apresentadas algumas escolas do tipo I e discutidas as vantagens da aprendizagem em casa (os próprios pais substituem a escola educando os filhos em casa, uma tendência com muitos adeptos nos EUA) e discute-se a possibilidade de colocar os alunos a ensinar os seus pares (partindo do princípio de que uma das formas de se saber se temos domínio sobre um assunto é tentar ensiná-lo a outros).

Daniel Pinks's TED Talk

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