O facto de poderem existir determinadas competências que não são passíveis de serem adquiridas através de e-learning representa um desafio para aqueles que elaboram conteúdos e para os técnicos que desenvolvem as ferramentas de software. Na verdade, as matérias de natureza prática que exigem experimentação e a manipulação directa de objectos, ferramentas ou materiais colocam dificuldades consideráveis ao funcionamento em e-learning. Algumas matérias com componente laboratorial podem ser, pela sua própria natureza, facilmente leccionadas em ambiente de e-learning (p.e. o ensino da programação de computadores ou a utilização de ferramentas informáticas) mas outras não. Como leccionar em e-learning uma matéria que exige, por exemplo, a experimentação num laboratório de química? Existem soluções como os laboratórios virtuais, que são aplicações informáticas de simulação mas que dificilmente substituem a realidade física de um laboratório real. Os mundos virtuais e os ambientes de realidade aumentada poderão ter contributos importantes nesta área mas muito provavelmente existirão sempre matérias que simplesmente não poderão ser leccionadas em e-learning.
Um ponto fundamental para a continuidade do sucesso dos sistemas de e-learning tem a ver com a qualidade dos conteúdos. Os conteúdos de um curso em e-learning não se podem resumir à digitalização de materiais originalmente em suporte de papel. O e-learning exige conteúdos criativos, interactivos, capazes de envolver os alunos e validados do ponto de vista pedagógico. A criatividade é um factor essencial que os sistemas de ensino formais geralmente não valorizam. A importância da criatividade é realçada por personalidades na área da pedagogia e inovação como
Ken Robinson (ver o vídeo
Do Schools Kill Creativity?). O projecto “
E-learning for Kids” é um exemplo da tentativa de produção e partilha de conteúdos de qualidade, dirigidos aos níveis etários mais baixos.
As ferramentas introduzidas pela Web 2.0 com o seu potencial de aplicação ao ensino levantam também uma série de questões. Será adequado usar as mesmas ferramentas para lazer e para o ensino? Basear um curso em ferramentas genéricas da Web 2.0 acarreta alguns perigos. A ferramenta pode simplesmente ser descontinuada (algumas das primeiras redes sociais já não existem) ou uma ferramenta inicialmente gratuita pode passar a ser paga limitando a sua aplicação no ensino. Um exemplo foi o que sucedeu com o serviço de redes sociais
Ning. E empresa detentora desta rede
anunciou em Abril de 2010 o fim do serviço gratuito quando alojava já mais de dois milhões de redes, com um forte peso no sector da educação. A solução pode passar pelo desenvolvimento de ferramentas específicas mas com as características das ferramentas genéricas da Web 2.0. É o caso da plataforma do projecto “
escolinhas.pt":
Esta solução garante controlo sobre a ferramenta e sobre o seu uso, particularmente no que diz respeito a aspectos de segurança e de privacidade, e garante a sua adequação ao fim específico do ensino. Soluções de carácter mais institucional mas que procuram seguir a filosofia das ferramentas da Web 2.0 podem ser também alternativa como o projecto
SAPO Campus.
A mais curto prazo verifica-se já o debate sobre o papel futuro das plataformas de e-learning tradicionais, os
LMS (ver, por exemplo, o post de
George Siemens,
Future of Learning: LMS ou SNS?). Poderão vir a ser totalmente substituídas pelo uso integrado de ferramentas da Web 2.0 ou continuar a ser usadas mas integradas com essas ferramentas originado plataformas mais alargadas com ofertas de novas funcionalidades. É este o caminho seguido, por exemplo, no
projecto SUMA. No entanto, a curto prazo não é previsível o abandono das plataformas LMS dado o elevado número de utilizadores e de instituições que delas dependem.
Certamente existem ainda outras questões e desafios que serão colocados aos sistemas de e-learning e ao ensino em geral. A forma como essas questões serão resolvidas e abordadas está directamente relacionada com o que se perspectiva que será o e-learning no futuro e como irão evoluir as tecnologias associadas.
Sobre o impacto que a tecnologia, e em particular a Internet, tem sobre as pessoas, em especial sobre a “net generation” (ver este
post), ou seja, a forma como irá afectar o desenvolvimento futuro de todos aqueles que já nasceram num mundo imerso em tecnologia, fica a visão de
Tim Berners-Lee que defende que a questão vai para além da tecnologia em si: “
… And you can’t just think about computer sciences, you need a psychologist to do an analysis of the child, you need sociologists to look at the types of culture that is being produced, then you need a philosopher to ask whether that is a good thing.” .